quarta-feira, 21 de julho de 2010

intimidade na augusta filosofia

não é a última, mas foi uma enorme

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"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"

Veros íntimos - Augusto dos Anjos

quinta-feira, 15 de julho de 2010

sentido

Mario Quintana dizia que não fazia força para fazer sentido, porque sentido seria um ato de soldado. Por algum tempo, em emoção juvenil, não pouco me aproximando de uma ética transviada e levianamente identificado com a filosofia taoísta e budista, meditei sobre tal fato e bradei aos cantos que sim, não era eu um soldado. Queria eu levar minha bandeira para Pasárgada, ser amigo do rei e usar livremente o que quer eu eu julgasse verdade, fugir de meus medos e justiças que interiormente levantavam fogo no meu íntimo. Intencionava fugir do bom combate e equivaler a experiência humana na suspensão quasi-coringa da existência bem-mal e fazer existir uma vida contemplativa, mesmo sabendo que a primeira fase do ser cabalisticamente é a coroa Ketherina, sendo o resto materialização da luz e noite sem existência concreta, meramente probabilidades quânticas que dragões trazem à vida. Passava eu pelo hedonismo.

O sentido da vida é o sentido que intimamente trazemos como sentido de justiça, é formado por minhas dores muito mais do que prazeres; meus prazeres, se não nascidos da resolução da dor e não passíveis de compartilhamento entre os libertos na obra, são vãos.

Vã glória de minha juventude.

Pois afinal todos fazemos parte de algum exército. Todos intencionamos a filosofia útopica do estado maior. Todos que deixamos de fazer macaquices entendemos o poder do ideal, do exemplo, do foco. Todos já fomos mega hedonistas, já encontramos excessos, já conhecemos o jogo, já nos enganamos com a mente. E o sentido da vida parece nos escapar pelos dedos que foram libertos em 5, a liberdade pitagórica. A liberdade é vã, a autonomia contemporânea é ilusória, os encantos do prazer são infinitos. Todo pensamento é coletivo, toda idéia é um exército. O sentido exterior é emburrecedor, o interior traz grandes riscos.

O sentido da vida é a integração pela arte da resolução da dor. Seja como for, pelo ofício do dom, pela estrada do labor, desde que geneticamente, ao final do dia, consiga-se no íntimo a dignidade de sentir com todo o ser: foi bom.

Work it out. E todo o resto é vaidade.


terça-feira, 13 de julho de 2010